Desfeito e refeito, novo volume da Coleção Educação do Olhar, aborda a obra de Cristiano Mascaro sob seu próprio olhar e traz uma reflexão do mesmo sobre seu ofício. O título, retirado de um ensaio do crítico literário Antonio Candido, representa, para Mascaro, a essência da fotografia: “desfazer o confuso emaranhado da realidade e – ao conceder perenidade ao instante impreciso e fugidio – refazê-la melhor”.

A partir de entrevistas concedidas pelo fotógrafo, o livro acompanha sua formação, carreira e processo de criação, apresentando ainda a influência que nomes consagrados como o francês Cartier-Bresson, o húngaro André Kertész, o americano Ansel Adams e o chileno Sergio Larraín exerceram sobre seu trabalho. Sobretudo, Mascaro discute as transformações impostas à fotografia contemporânea pelo rápido avanço das novas tecnologias.

Nascido em Catanduva e criado em São Paulo, Cristiano Mascaro desde pequeno aprendeu a observar a cidade – e é dela que extrai tanto imagens registradas no começo da carreira, ainda como jornalista fotográfico da revista Veja, quanto as de arquitetura, influenciadas pela formação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Reside nas cidades, portanto, a maior inspiração do fotógrafo, atento à imprevisibilidade e ao acaso que as ruas proporcionam e que podem passar despercebidos aos olhos não treinados. “A fotografia é o terreno do que vai acontecer. Você está sempre um segundo à frente, imaginando toda uma combinação de primeiro plano e fundo, de forma e composição, e torce para que tudo vá na direção esperada”, relata.

Esses fragmentos da realidade, segundo Mascaro, podem ser obtidos de duas maneiras: a partir de “momentos roubados” ou de “momentos construídos”. Os primeiros referem-se às situações em que o fotógrafo é surpreendido por um acontecimento fortuito e o registra, caso clássico do fotojornalismo. Os segundos são as imagens cuja execução prevê planejamento, como as fotografias publicitárias, retratos e pesquisas. Graças à dupla formação – como arquiteto e repórter fotográfico –, Cristiano Mascaro tem intimidade com os dois campos. Em ambos, ele propõe uma fidelidade estrita àquilo que seria o próprio princípio de seu ofício: “a fotografia consegue capturar algo luminoso, que está ali perdido naquela infinidade de coisas que ninguém vê. Isto só ela é capaz de fazer”.