A Coleção África aqui apresentada começou a se formar há cerca de vinte anos. Não houve, nessa primeira reunião de peças, uma diretriz curatorial ou um recorte acadêmico, mas uma atração de ordem estética, provocada pelo contato com uma peça Baga no museu do Louvre, em Paris – como ocorre com grande parte dos ocidentais, também aqui o conhecimento sobre as manifestações artísticas dos povos africanos se deu nas seções de etnografia das instituições europeias. Ao aproximarmo-nos delas não apenas reconhecemos a fonte de que beberam artistas essenciais da história da arte do século XX – Picasso, Brancusi, Giacometti – como, como brasileiros, pudemos identificar elementos formativos de nossa cultura. Percebemos, assim, que trilhávamos um caminho entre a descoberta e o reencontro; estávamos diante de algo completamente novo e ao mesmo tempo familiar e ancestral.
À medida que a Coleção crescia, aprofundava-se nosso conhecimento sobre os significados culturais, simbólicos e históricos das peças que a compunham; cada nova aquisição abria todo um universo de referências e ditava o caminho que deveríamos seguir. A Coleção África conta hoje com cerca de 700 peças – em sua maioria máscaras, mas também estatuetas e outros objetos de uso ritualístico.
Este livro apresenta 182 peças desse conjunto, uma seleção que demonstra a extraordinária sofisticação, variedade e potência desses objetos. As explicações que acompanham cada grupo bem como as legendas das fotos das peças consideradas “modelares” de cada tipologia buscam ajudar o leitor a compreender as várias camadas de significados que cada elemento assume na peça de que faz parte – nada está aqui por acaso ou por mera ornamentação. No final, um glossário esclarece conceitos essenciais, discutindo inclusive palavras e ideias que ainda fazem parte do senso comum ou do léxico leigo, embora tenham sido questionadas ou abandonadas pela antropologia contemporânea.
Com fotos de Rafael Costa [1963-2024], a edição também traz QR Codes onde é possível ver pequenos filmes com as máscaras em diversos ângulos, um mapa com a localização dos grupos culturais presentes na Coleção e sugestão de vídeos onde é possível conhecer as utilizações das máscaras.
Assim, para expor esse recorte da Coleção África, foram reunidos textos, imagens e um amplo referencial bibliográfico que serão de grande interesse para o leitor de qualquer formação. Não se trata, aqui, de uma obra didática em sentido estrito, mas de uma obra de iniciação – um guia para dar os primeiros passos pelos intrincados e variados caminhos da cultura dos povos da África.